Noção de Divindade nas Culturas Monoteístas
Crenças e Dogmas
Estamos todos como que submersos num emaranhado de crenças para as quais somos direcionados desde muito pequeninos, geralmente pelas pessoas em quem mais confiamos, nossos pais, familiares e professores.
Desde as crenças mais simples como a de que apenas com muito sacrifício se pode alcançar qualquer merecimento nesta vida, como até as mais complexas e dogmáticas, como a crença em um só Deus retratado numa figura paterna masculina poderosa e controladora, ao mesmo tempo misericordiosa e punidora, ao mesmo tempo pai e carrasco,
ao mesmo tempo cria a vida e determina a hora da morte.
E algumas destas crenças, principalmente as associadas à religiosidade, são tão fortes, tão amedrontadoras, que pessoas inteligentes no mundo inteiro sentem uma espécie de temor reverencial que as impede de cogitar mesmo que seja no secreto silêncio de seus íntimos pensamentos, uma pergunta tão simples como: Porque é masculino (ele, o Deus) e não poderia ser feminino (ela, a Deusa)?
Deus ou Deusa?
E se o criador de tudo e de todos, não houvesse sido um PAI ETERNO, mas uma MÃE ETERNA?
E se não houvesse sido um CRIADOR, mas uma CRIADORA? Muitos sequer se permitem fazer esta cogitação, e a outros que se permitem, soa tão uma ideia tão obscura que é difícil de prosseguir no exercício de tal pensamento.
Afinal, como se aprende desde pequeninos, é possível pecar por atos, por palavras, mas também por pensamentos! E o temor de estar a pecar ao pensar na possibilidade de Deus como um ser feminino, é tão poderoso que afugenta tal cogitação mesmo de mentes letradas acostumadas a discutir no mais alto nível diversos outros assuntos.
Ninguém disse ou escreveu que DEUS é masculino, mas essa é uma noção que parece óbvia… será?
É claro que a energia criadora é algo que está muito acima das nossas definições de gênero, e nesse sentido sim, seria absurdo, atribuir o adjetivo de masculino ou feminino a Deus ou ao Espírito Santo, o que se pode é identificar o Sagrado Masculino e o Sagrado Feminino interagindo, como energia pulsante, complementar, um servindo ao outro na mesma medida em que um é servido pelo outro, sem uma relação de hierarquia ou subserviência.
Mas a ideia de DIVINDADE propagada por todos os povos de cultura monoteísta, é de uma DIVINDADE nitidamente masculina, essa é uma noção unânime, seja no Cristianismo, seja no Judaísmo, seja no Islamismo!
A questão que se coloca é, porque um Deus tão justo, tão amoroso, tão misericordioso, criaria à sua imagem e semelhança dois seres com igual inteligência, com papéis absolutamente complementares na propagação da vida e da sua espécie, mas teria dado a um deles, no caso, a mulher, uma posição inferior? E por que razão justamente o ser
de posição inferior é que é dotado do útero, local sagrado onde se repete o milagre da vida? É inegável que, no mundo monoteísta, há uma total exclusão do SAGRADO FEMININO, ele simplesmente não faz parte de toda a dogmática que forma a espinha dorsal de qualquer uma das religiões dessa cultura.
O Ocidente e o Cristianismo
Abordando mais especificamente o Ocidente e o Cristianismo, a Santíssima Trindade formada pelo PAI, FILHO e ESPÍRITO SANTO, é forte exemplo dessa erradicação doutrinária do SAGRADO FEMININO.
Todos sabem que a vida humana somente se cria com PAI, FILHO E MÃE e mesmo a concepção milagrosa de Jesus Cristo, única noticiada nas escrituras, se deu com a participação da MÃE e do ESPÍRITO SANTO, não com o PAI. Isso faz parecer que a MÃE tem uma importância que não justifica sua exclusão da SANTÍSSIMA TRINDADE.
Mesmo a MÃE DE JESUS, ou MÃE DE DEUS, como muitos denominam, tem na própria religião cristã uma posição secundária menos valiosa que a do filho varão que lhe nasceu, de forma que não chega a ser uma indicação da presença do SAGRADO FEMININO, pois sua posição é de total submissão diante de DEUS, jamais de igualdade.
Embora sem ela, Maria, a própria Santíssima Trindade não tivesse como existir, porque precisou do filho, que somente por Maria pôde ser gerado, toda forma de SAGRADO FEMININO está excluída do mais importante dogma do Cristianismo.
Nem com toda a importância que o Cristianismo confere a Maria, ela não pode ser considerada uma DEUSA, e a própria palavra “DEUS” escrita na declinação do gênero feminino: “DEUSA”, soa como uma heresia para a maioria dos Monoteístas, mesmo não cristãos.
A grande pergunta é por quê? Por que razão os povos de cultura MONOTEÍSTA atribuem uma noção eminentemente masculina à sua DIVINDADE? Desde quando e por quais motivos se formou essa noção?
Teria uma CRIADORA colocado o homem em uma posição de subserviência perante as mulheres?
Quando se pensa na figura de uma MÃE JUSTA, fica difícil conceber que colocasse dois filhos (um menino e uma menina), em posição desigual, permitindo que um exercesse domínio sobre o outro.
Por que afinal a Santíssima Trindade é composta de PAI, FILHO e ESPÍRITO SANTO, e nesta figuração, não existe nenhum componente feminino?
Se apenas com PAI e com o ESPÍRITO SANTO, não existirá jamais o FILHO, é preciso da MÃE, porque ela foi suprimida deste triângulo?
Se Jesus Cristo personificou em um só ser, o PAI, o FILHO e o ESPÍRITO SANTO, talvez este terceiro elemento ESPÍRITO SANTO, seja, na realidade, a MÃE, como todo filho personifica em seu DNA, ele próprio em primeiro lugar, o PAI e a MÃE.
A ideia de uma divindade amorosa, justa e misericordiosa, não se coaduna com a criação de dois seres iguais, porém um em posição de inferioridade em relação ao outro, mas essa incoerência, curiosamente, parece não despertar questões nem mesmo na mente dos mais eruditos.
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